Saúde Bucal para Empresas

Doenças Ocupacionais em Odontologia

Infelizmente há uma séria escassez de trabalhos nesta área no Brasil. Na verdade não se sabe com precisão quais são as doenças ocupacionais que causam alterações bucais.

Por exemplo,  quando Ramirez e Tapia 12 analisam o quadro clínico do saturnismo na indústria metalúrgica, perguntamos: ” Alguém examinou a boca dos indivíduos afetados”. A mesma pergunta podemos fazer quando analisamos um trabalho de  MATUO6 e cols sobre os efeitos dos resíduos de DDT no soro sanguíneo de trabalhadores da laranja, ou mesmo sobre o benzinismo no Complexo Petroquímico de Camaçari e ainda a exposição ocupacional do arsênico na indústria metalúrgica do cobre.

Recebemos diversos pedidos nos DRs visitados para que o DN funcione como apoio técnico-científico no sentido de realizar uma investigação metodológica sobre alterações bucais ocupacionais quando forem levantados focos de suspeita.

Por exemplo, Rio de Janeiro citou que os profissionais que trabalham na Petrobrás / Bacia de Campos / Plataforma tem o ritmo circadiano alterado, porque ficam 15 dias na plataforma e 15 dias fora dela. Isto parece afetar a saúde periodontal desses trabalhadores, segundo relato de C. Dentistas. Seria interessante que o  suporte científico metodológico a este tipo de pesquisa.  Criar-se-ia então um banco de dados sobre a influência do trabalho nas condições bucais do trabalhador.

Sabemos pela experiência clínica que trabalhadores que manipulam agrotóxicos podem apresentar freqüência maior de ulcerações aftosas recorrentes do que a população em geral. Faltam ainda pesquisas comprobatórias nesta área.

Outra citação freqüente é de que trabalhadores da indústria de doces, confeitos e guloseimas apresentam maior [índice de cáries de colo do que a população em geral. Dentistas que trabalham em metalúrgicas comentam sobre alterações periodontais em trabalhadores de fornos de altas temperaturas. Há necessidade de maiores pesquisas nesta área.

No caso da Odontologia, durante o IV Congresso Brasileiro de Câncer Bucal foi apresentado trabalho que analisava alterações teciduais em lábio, existentes em funcionários da Eletropaulo decorrentes da desidratação eólica a que se expõe.

O câncer bucal mais especificamente o de lábio, pode ser considerado uma doença profissional. Os profissionais que trabalham expostos à luz solar sem proteção adequada podem tornar-se portadores do carcinoma baso-celular. Trabalho foi realizado no distrito de Graciosa – PR, em que funcionários de uma cooperativa que produz farinha de mandioca apresentam alta incidência de queilite solar (lesão cancerizável). Garis, jardineiros, pescadores, agricultores, marinheiros devem ser orientados para proteger-se deste risco.

Interessante que é comum a suspeita de lesão cancerizável ser realizada por Cirurgião-Dentista, já que estas lesões são indolores e não fazem o trabalhador dirigir-se ao médico em busca de um diagnóstico.

A prevalência de lábios ressecados e rachados em operários que trabalham nos consertos de rede elétrica, asfaltadores de estradas, garis, etc. 

Foi comprovado que existem alguns fatores fora a exposição ao sol, tempo quente e pouca umidade, que provocam a aparição de lábios rachados 15. Foram associados com a presença de herpes labial recorrente, e pele clara. Protetores labiais só foram eficazes no caso do herpes.

Lábios rachados (xeroqueilosis), é a excessiva secura da borda vermelha dos lábios, e é manifestada por escaldaduras, rachaduras e eritema. A falta relativa de queratina e de estruturas glandulares deixa a borda vermelha do lábio muito susceptível para rachar quando a umidade relativa baixa a menos de 30%. Mesmo que os lábios não sejam pele, senão mucosa modificada, as mesmas causas e mecanismos podem ser aplicados para ambos. Não é um problema sério do ponto de vista médico, mas causa desconforto ao trabalhador.

A porção mais profunda do estrato córneo, que tem um contato direto com o epitélio saturado de água, está sempre bem hidratado, considerando que a porção superficial está seca porque está exposta ao ambiente externo.

Quando o volume de água que vem de baixo do estrato córneo, fica em quantidade deficiente comparando com o volume de perda da superfície, a borda vermelha do lábio fica seca e racha. O mecanismo principal na retenção de umidade e flexibilidade da pele é a produção de sebo. O sebo é hidrófilo, atua como um reservatório de água, ajudando na absorção da água, é lubrificante, dando proteção à agressões químicas, físicas e bacterianas.

Classicamente, se acreditava que a diminuição de atividade das glândulas sebáceas que acompanhavam a velhice e desidratação do estrato córneo era responsável pela secura da pele. Estudos recentes comprovaram que a produção de sebo diminui com a idade, mas há diferenças extremas entre a produção de sebo na população idosa.

Com o aumento da idade, variações de estações, aumento à exposição ao sol e alguns medicamentos, estão associados com a incidência de pele seca, mesmo a qualidade e volume do sebo produzido parecem não estar associados com o aumento de incidência de pele seca.

Aceita-se que lábios e pele são similares, e que os fatores de risco para “rachaduras” serão os mesmos para ambos os tecidos. Fatores co-relacionados de risco, com certeza, incluem raça (diminuição da quantidade de melanina), exposição ao sol, calor, hereditariedade (autossômico dominante).

Classificação15 :

1)     Severa – rachaduras, sangramentos.

2)     Moderada – secura, descamação sem rachaduras, aspereza.

A consulta odontológica é uma excelente oportunidade para que seja feito um diagnóstico precoce de câncer de lábio. Além disso, orientar para a proteção da luz solar os trabalhadores que apresentam lesões cancerizáveis no lábio ou que tem a pele muito clara e se expõe ao sol é outra tarefa básica do Cirurgião Dentista.Com relação às doenças psicossomáticas, MENDES, R no capítulo 12 de seu livro, Patologia do Trabalho, afirma que é muito difícil classificar uma doença psicossomática como ocupacional.Por outro lado, Denise Monetti, psicóloga da Fundacentro, chama a atenção para o problema do sofrimento mental sentido por trabalhadores. Ela analisou operários da  refinaria Henrique Lange em São José dos Campos e concluiu que o medo pode aumentar os riscos de acidente. O medo é causado pelo risco de incêndios e explosões que podem ser causados pelo vazamento de substâncias químicas.Sabemos que dificuldades de relações interproximais, perda de autonomia profissional podem causar ansiedade.Turnos alternados parecem alterar o ciclo circadiano por uma alteração do relógio interno e até as relações sociais e familiares se prejudicam.

Recentemente discutiu-se o fato de que:

76% dos monitores da FEBEM sofrem de problemas psicossomáticos causados por situações de extremo stress no trabalho ( fonte: TV  –  Jornal Nacional  –  11/10/99)

a)     trabalhar sob pressão constante

b)     Períodos longos de trabalho sem (pequenos) intervalos de descanso

c)      Procurar tarefas extras em demasia

d)     Natureza repetitiva do trabalho

e)     Sentir-se isolado

f)       Não ganhar o suficiente para suprir as necessidades

g)     Não alcançar as expectativas desejadas ou necessárias

h)     Problemas com colegas

i)        Problemas relacionados com a chefia ou subalternos

j)        Condições insatisfatórias de trabalho

k)      Possibilidade de cometer erros e não estar à altura do seu cargo

l)        Medo do desemprego

Com relação à boca, há algumas doenças cuja etiologia está fortemente associada ao STRESS17

 Todas essas doenças incidem na faixa etária do trabalhador. 

 MANIFESTAÇÕES BUCAIS DE ENVENENAMENTO POR METAIS 

Muitos sais metálicos atuam como venenos sistêmicos. Hoje em dia devido ao uso de medidas de proteção são raros os casos de intoxicação sistêmica.

Arsênico. As lesões bucais no envenenamento por arsênico consistem de gengivite e estomatite. Os demais aspectos clínicos incluem vômito, diarréia, hiperqueratose, hiperpigmentação e distúrbios neurológicos.

Chumbo. O envenenamento por chumbo se manifesta na boca sob a forma de salivação abundante, gosto metálico, tumefação das glândulas salivares, e uma linha escura (linha de chumbo) ao longo da margem gengival. Microscopicamente, a linha de chumbo consiste de um depósito de pigmento granular nas áreas perivasculares da submucosa e na membrana basal. Este pigmento é sulfeto de chumbo. A presença da linha de chumbo é especialmente pronunciada naqueles pacientes com má higiene bucal.

Bismuto. O envenenamento por bismuto era comum quando se utilizava este metal no tratamento da sífilis. As manifestações bucais consistem de sabor metálico, sensação de queimação na mucosa bucal e da linha bismútica que é semelhante à linha de chumbo e ocorre ao longo da gengiva marginal dos pacientes com higiene bucal deficiente. Em alguns casos, outras áreas da mucosa bucal podem exibir manchas pigmentadas.

Microscopicamente, depósitos de um pigmento granuloso e negro (sulfeto de bismuto) são vistos na submucosa. Acreditamos que o sal de bismuto reage com o sulfeto de hidrogênio, que é produzido pela degradação dos restos alimentares presentes na boca e produz o sulfeto de bismuto que, por sua vez, se deposita como um precipitado insolúvel.

Mercúrio. O envenenamento agudo ou crônico com mercúrio metálico causa distúrbios no sistema nervoso central (tremores e instabilidade emocional) e no trato gastrintestinal. As manifestações bucais consistem em aumento da salivação, estomatite e glossite, tumefação das glândulas salivares e, algumas vezes, uma linha escura na gengiva que é semelhante à do envenenamento por bismuto.

Prata. O contato prolongado com compostos orgânicos ou Inorgânicos de prata, produz  argiria. A pele e a membrana mucosa bucal adquirem uma tonalidade acinzentada. Os cortes microscópicos mostram um depósito de um pigmento negro, granuloso e fino no tecido conjuntivo subepitelial. Os grânulos representam um albuminato  de prata insolúvel e dão, aos tecidos, uma pigmentação permanente.

Fósforo. O envenenamento crônico segue-se à inalação prolongada de compostos de fósforo e a sua manifestação  bucal mais evidente é uma osteomielite persistente e progressiva da maxila e da mandíbula.

Erosão Dental Industrial– Trabalhadores com erosão dental provocada pela exposição à vapores ácidos

A erosão dental pode ser definida como uma perda de tecido duro do dente, causada por um processo químico no qual não há presença bacteriana.

A erosão é freqüentemente o resultado de uma exposição constante das superfícies dentárias a ácidos, os quais podem ser de uma fonte alimentar como comidas e bebidas ácidas, alguns medicamentos, regurgitação gástrica, ou o meio ambiente industrial onde os trabalhadores estão expostos a vapores ou névoas ácidas.

A erosão industrial está caracterizada pela perda de tecido dentário na parte vestibular e incisal dos dentes anteriores.

Muitas ocupações foram associadas com a erosão dental, entre elas a fabricação  de munições, bebidas, assopradores de vidro, limpadores sanitários, baterias, etc.

Há relatos2 de colocadores de pisos com queixa de sensibilidade nos dentes anteriores superiores. Ao exame clínico apareceu perda de tecido dentário, especialmente nas superfícies palatinas dos dentes superiores anteriores. O paciente relatou que trabalhou durante  25 anos aplicando resina em pisos, e o trabalho era realizado com a cabeça inclinada para baixo enquanto colocava a substância para realizar a aplicação, então os vapores ácidos entravam diretamente na sua boca. Este é um caso interessante de erosão em colocadores de pisos.

Prevenção – A prevenção mais eficaz de erosão provocada por vapores ácidos é o isolamento do dente ao agente causador. Há varias medidas que podem ser tomadas. A área da industria onde o vapor ácido é produzido deve ser declarada uma zona de respiração especial. Isto significa que o uso de máscaras especiais contra gases deve ser obrigatória. Elas tem a vantagem de cobrir boca e nariz, mas são desconfortáveis no calor e volumosas. Apesar dessas desvantagens, elas parecem ser o único método efetivo para prevenir a erosão dental e a perfuração do septo nasal.

Por isso o uso desse tipo de máscara deveria ser recomendado.

Protetores bucais também são recomendados como um método eficaz para isolar os dentes dos vapores ácidos, e deverão ser usados sempre durante o trabalho nesses locais da indústria onde há vapores ou poeira ácidas. A desvantagem deste método é que ele só protege os dentes e não o septo nasal.

O uso de máscaras simples não demonstrou ser uma medida muito eficiente, pois os trabalhadores geralmente a usam por baixo do nariz, cobrindo só a boca, e assim protegem o dentes mas não o septo nasal.

Após a exposição aos ácidos, é recomendado o uso imediato de bochechos de bicarbonato de sódio, ou mesmo com água.

Os trabalhadores deverão utilizar na sua higiene diária pastas com flúor, escova macia, bochechos com flúor, ou acrescentar flúor ao leite que é fornecido para eles na fábrica ou indústria.

Acidentes Faciais Causadores de Trauma Facial

Este tipo de trauma é causado geralmente por objetos das próprias máquinas que quebram e suas partes quebradas atingem o trabalhador, causando ferimentos cortantes ou com esmagamento de partes duras14.

Instrumentos elétricos que utilizam discos de carborundum, podem quebrar, desintegrando esse disco em pedaços, que atingiriam o funcionário especialmente na sua face e pescoço.

A mandíbula, o tecido mole do queixo, estruturas como língua, assoalho da boca, dentes, lábios, etc., resultam geralmente atingidas, em graus diferentes, e geralmente resultam em feridas grosseiras e contaminadas dos tecidos moles e ossos, sendo necessário limpar e retirar, como nos casos do disco de carborundum, as pequenas partículas do mesmo.

Por isso, máquinas elétricas deverão ser utilizadas sempre de acordo com as instruções e adotando medidas de segurança – como capacetes protetores.

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